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O acaso - Bets

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Com um pouco de exagero, costumo dizer que todo jogo é de azar. Falo assim referindo-me ao futebol que, ao
contrário da roleta ou da loteria, implica tática e estratégia, sem falar no principal, que é o talento e a habilidade
dos jogadores. Apesar disso, não consegue eliminar o azar, isto é, o acaso.


Esse texto brilhante de Ferreira Gullar (leia aqui: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2406200723.htm)
fala de como o acaso (sorte ou azar) influencia os resultados da vida. Apesar de toda a estratégia e técnica que
uma pessoa possa adotar na vida ou no jogo, a sorte ou o azar podem determinar o destino final.


Os jogos de azar dominavam nosso imaginário apenas quando a Mega-Sena acumulava ou no fim de ano na
esperança de ficar milionário com a Mega da Virada. Mas, hoje, esse assunto invadiu nossas conversas, nossas
famílias, empresas, noticiários e até o Congresso Nacional. Com a proliferação das Bets e dos “jogos do tigrinho”
(cassinos online), muito dinheiro e esperanças são jogados no lixo.


Veja este relato:

 

Meu neto perdeu tudo que a gente tinha com jogos de aposta online. Começou a jogar por incentivo de outras
pessoas e começou a perder. Perdeu o carro, o dinheiro que eu tinha no banco, por fim deu golpe na empresa
que trabalhava de R$ 200 mil. Minha casa valia mais de R$ 300 mil e vendi, entreguei pelo débito. Nós perdemos
tudo que tínhamos", disse a mulher que preferiu não ter a identidade revelada. (http://bit.ly/4kqqQy9)


O vício leva a pessoa a cometer atos irracionais. Esse neto perdeu bens e ainda fez sua avó perder tudo o que
tinha. Tudo em nome de uma promessa irreal, de ficar rico rápido, com pouco dinheiro e sem esforço.

 

A loteria, apesar de ser um jogo de azar, traz poucos estímulos para nos viciarmos como nas apostas esportivas e
cassinos online. Os aplicativos dessas empresas trazem cores vivas, luzes que não param de piscar, sons,
notificações no seu celular, tudo para que você fique altamente estimulado a permanecer e apostar cada vez
mais. Fora a propaganda agressiva que fazem em tudo que é lado. Já viu quantos times de futebol brasileiros são
patrocinados por casa de apostas? Essas empresas sabem o jogo que estão jogando e sabem como nosso cérebro
funciona para ficarmos mais estimulados e gastarmos mais em suas plataformas.

 

Antes, as pessoas se reuniam para jogar uma partida de futebol no fim de semana com amigos. Com o tempo,
fomos trocando isso por assistir ao jogo pela TV. Hoje, elas trocaram tudo isso por apostas no jogo. Trocaram um
momento de alegria e prazer pelo vício.


E esse vício parece inofensivo, mas está longe de sê-lo. A ludomania/ludopatia, que é dependência ou compulsão
por jogos de azar, já é reconhecida como doença desde 2018 pela Organização Mundial da Saúde (OMS). E mais, o
Ministério da Saúde do Brasil encaminhou ofício ao Supremo Tribunal Federal defendendo que essa doença
precisa ser tratada como os vícios em álcool e drogas.


Como disse, esse é um assunto que invadiu o Brasil e até a arena política. Em novembro de 2024, foi instalada a
CPI das Bets pelo Senado Federal. A motivação dela foi pela crescente influência das apostas online no orçamento
das famílias brasileiras, possíveis associações dessas plataformas com organizações criminosas, incluindo
esquemas de lavagem de dinheiro e o uso de influenciadores digitais na promoção e divulgação dessas atividades.
Foram realizadas diversas audiências e tomados diversos depoimentos para que o parlamento compreenda os
diversos efeitos que esse tipo de mercado tem impactado as famílias.

 

A solução não deve vir apenas do Congresso. Somos responsáveis por nossas vidas e devemos cuidar de nossos
parentes e amigos. A educação financeira é sempre bem-vinda, necessária para o desenvolvimento da população.

 

Mas é preciso ir além. Pessoas estão viciadas, logo precisam de ajuda, acolhimento e tratamento. É assunto de
saúde pública.

 

Silvano de Oliveira Junior - Gerente de Planejamento, Controladoria e Pessoas